quinta-feira, dezembro 06, 2012

Adeus a Oscar Niemeyer (II)


Me agradou muito ler o que escreveu o poeta Ferreira Gullar sobre o seu amigo Oscar Niemeyer falecido nesta quarta, 5 de dezembro de 2012. Ele era amigo pessoal do arquiteto desde 1955. Abaixo:

"Oscar foi meu amigo durante muitos anos. Além da admiração, eu tinha por ele um grande carinho. Era uma pessoa afetuosa e de grande fidelidade aos amigos. Oscar foi uma das figuras mais significativas da vida cultural brasileira. Não foi só um grande arquiteto, mas mudou a arquitetura. Foi um dos herdeiros dessa arquitetura surgida no fim do século 19, início do século 20, que se caracterizava pelas linhas e ângulos retos, uma reação à tradição do barroco, da coisa rebuscada. Oscar foi herdeiro essa arquitetura, dessa racionalidade, manteve a nitidez das formas, mas introduziu a forma curva, poética, inventiva. Ele mudou a linguagem da arquitetura e a partir daí influenciou seu próprio mestre, Le Corbusier. O Palácio Capanema tinha o desenho original de Le Corbusier e Oscar fazia parte do grupo de jovens arquitetos que se encarregou do desenvolvimento do projeto. Num determinado momento, Oscar pegou um pedaço de papel e redesenhou a fachada. Lúcio Costa viu e disse "essa é a forma correta". O prédio ganhou uma leveza que não tinha. E o prédio da ONU é um projeto de Oscar, o projeto de Le Corbusier tinha sido rejeitado. Mas o projeto final apareceu como sendo de Oscar e Le Corbusier. Como Le Corbusier era mais conhecido, ficou como se fosse dele. Oscar contava que uma vez, em Paris, Le Corbusier o convidou para almoçar e disse "Oscar, você é um sujeito generoso". Esse era o Oscar. Ele contava essas histórias, rindo. São histórias que ouvi dele. Tinha essa generosidade, dividia com os outros o que ele fazia. Era um amigo, uma pessoa cheia de afeto e um dos maiores arquitetos do mundo."

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