segunda-feira, janeiro 21, 2013

Saci, a vítima passiva do sistema

Em Marabá, todos sabem o que é o Saci (Serviço de Atendimento ao Cidadão) e como funciona. O nome, porém, acabou incorporando um significado bem diferente do que o que fora idealizado. Ao invés de ser tido como um facilitador da vida do cidadão comum, virou um microcosmos da burocracia que impregna o serviço público brasileiro. E olha que mexer com gente dá voto, dizem os politiqueiros. Porém, no caso de Marabá, sempre foi mais importante entregar esse órgão a cabide de emprego, sucateando o bom atendimento e premiando a troca de favores.

O que me levou a escrever hoje sobre este tema foi o resultado de recente reportagem do CORREIO DO TOCANTINS sobre o órgão, onde ficou bem claro que o governo mudou e o modelo está fadado a ser o mesmo. Esta semana, a secretária de Assuntos Comunitários, pasta que manda no órgão agora, dava entrevistas garantindo que vai descentralizar o Saci e falando até em abrir uma unidade na Velha Marabá, no prédio da antiga feirinha. Hum?!

Vejo as afirmações da secretária bem mais como a empolgação de quem está chegando agora, do que a expressão da realidade do sistema. Outros antes dela fizeram grande alarde prometendo construção de um prédio novo na Nova Marabá, pois o velho terceiro piso do Centro Administrativo não oferecia condições. O tempo passou e... nada mudou. É desesperador que um cadeirante ou alguém de muletas tenha de enfrentar três lances de rampa para chegar ao pé do balcão.

Tem mais, depois de um período agudo de crise do órgão no último governo, quando usuários passavam a noite e madrugada na porta do prédio e a situação gerou inúmeras reportagens no CT, na TV e no rádio, algum tecnocrata ‘espertinho’ teve uma grande ideia. Ampliar a capacidade de atendimento? Não, claro. Criar um dia apenas de distribuição de senhas, no caso a segunda-feira, e dispensar qualquer outro que se apresentasse ao local nos demais dias sem a senha em mãos.

Muito ‘espertinha’ a manobra, dentro do conceito do ‘jeitinho brasileiro’ e, obviamente, um atentado à inteligência e aos direitos do cidadão que tanto precisa dos serviços. A providência acabou com a fila diária, mascarando que o atendimento tivesse melhorado, porém atendendo o mesmo contingente de sempre, e às vezes nem isso. A demanda continuou a mesma e os agendamentos podem jogar um usuário para até um mês depois.

Inaceitável, revoltante, desumano. Não há outros adjetivos, me perdoem. Só vejo um propósito no sucateamento e no primitivismo do atendimento do Saci: privilegiar o clientelismo. Deixar nas mãos do gerente do órgão, seja ele quem for e em que gestão, o poder de privilegiar os seus, fazendo média com alguém por agendamentos mais curtos ou por pular a fila.

Tem mais, o Saci tem na sua essência a necessidade de parceria entre os órgãos do Estado e do Município, porém é sabido que estas duas instâncias vivem às farpas, com prefeitos e governadores que não se dão bem e o panorama não é diferente nos dias de hoje. A carteira de identidade, por exemplo, é um dos documentos mais procurados e é emitido pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup), órgão estadual.

O Saci é primo do Vapt-Vupt, de Goiânia (GO), um serviço que se não é de excelência ali, é pelo menos mais humano e ágil, com estrutura, recursos financeiros e agências espalhados por vários bairros, pois o pobre, aquele que mais precisa, não tem condições de se locomover a quilômetros.

É sonho, e apenas sonho até hoje, que o Saci cumpra com o que diz o seu nome e forneça cidadania a quem dela precisa. É pedir muito? Claro que não.

2 comentários:

Também concordo com você o SACI em Marabá é desumano. O nosso governo deveria ver alguns modelos que dão certo ou pelo menos mais humano. Quando preciso daquele órgão fico triste.

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