quarta-feira, abril 25, 2007

Jornalismo deixa de ser vertical

No Blog Código Aberto, o colega jornalista Carlos Castilho, da revista Fatos & Fotos, faz uma análise interessante e inovadora sobre o papel do jornalista nos tempos atuais e a necessidade de diálogo cada vez maior com os leitores.

Como defensor desta mesma linha de pensamento, a qual eu já discutia nos tempos de faculdade, passo a reproduzir parcialmente o texto de Castilho:

“(...) Na imprensa, os comentários de leitores deixaram de ser um penduricalho modernoso e começam a tirar o sono de alguns profissionais, diante dos dilemas e desafios surgidos por conta do novo tipo de relacionamento com os consumidores de notícias.
Para quem observa rotineiramente o teor e os autores de comentários postados em weblogs e páginas noticiosas na Web brasileira fica claro que a esmagadora maioria deles contém críticas à imprensa, em graus variáveis desde a argumentação séria até o xingamento grosseiro.
Não há nada de surpreendente neste comportamento, pois a participação dos leitores está ainda na primeira infância e a maioria deles está fortemente marcada por frustrações acumuladas ao longo de anos. É normal uma reação inicial do tipo catarse que geralmente é seguida pela busca da racionalidade, caso a parte atacada consiga manter a serenidade.
Acontece que nem todos os jornalistas estão conseguindo assimilar este inédito protagonismo do público, porque nunca antes haviam se defrontado com um fenômeno desta natureza. No regime militar de 1964 a 1985, a imprensa contou com a tolerância dos leitores, mesmo sendo dócil aos militares. As pessoas sentiam-se de alguma forma solidárias com os jornalistas, por conta da censura imposta pelo autoritarismo.
Na redemocratização, o público se embriagou com a liberdade de opinião num processo que chegou ao climax no impeachment do presidente Collor, mas depois perdeu intensidade. As simpatias da época da ditadura começaram a ser substituidas pela desconfiança de que a imprensa, na verdade, possuía seus próprios interesses corporativos, que nada tinham a ver com os dos leitores.
Na virada do milênio, a internet deu ao público as ferramentas necessarias para "botar a boca no trombone" e o quadro mudou completamente. A crise do mensalão foi o pretexto para que setores do público expressassem com veemência ainda maior a desilusão com os políticos e a imprensa. Em pouco tempo, as redações e os comentaristas começarm a sentir-se patrulhados e não raro hostilizados.
O impacto está sendo grande, pode danificar currículos e deixar cicatrizes profundas, caso o problema não seja analisado de forma aberta e transparente, tanto pelos leitores como pelos jornalistas profissionais. E duas questões já estão colocadas para a reflexão e discussão:
1) A função dos jornalistas está mudando e a sua grande responsabilidade hoje já não é mais apenas contar histórias e investigar denúncias mas, também, pensar como deve ser a nova ecologia informativa da sociedade atual e oferecer aos leitores os instrumentos necessários para que eles participem da produção de notícias. A era do jornalismo vertical acabou e a agora os profissionais terão que aprender a conviver com uma nova realidade.
2) O público vai passar por um complexo aprendizado para poder assumir suas responsabilidades no novo contexto informativo criado pela internet. Os leitores dispõem hoje de ferramentas incríveis de participação informativa mas isto não pode ocultar o fato de que este protagonismo tem um custo: a aceitação de responsabilidades. O quadro é muito mais complexo, mas estes dois enfoques podem ser um ponto de partida para discutir uma possível nova parceria entre jornalistas e leitores”.

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